domingo, dezembro 03, 2006

Às Mangueiras de Belém

Túneis de mangueiras ao redor da praça da república - Belém do Pará

Do útero da cidade envelhecida ergam-se, poderosas mães verdes, e derramem sobre os filhos de Belém as lágrimas doces de sua vontade de viver.
Nos túneis construídos pelos homens, árvores reinam soberanas, acima de toda vontade do homem de se fazer asfalto sobre a terra.
Da terra vem o perdão da natureza a essa cidade pecadora.

sexta-feira, novembro 24, 2006

Há Outros Mundos 2

Um mês depois chega a minha próxima crónica, desta vez subordinada a um tema (foi a professora que escolheu). Um pouco mais da minha cidade!

Um olhar sobre o Colégio do Espírito Santo

O Colégio do Espírito Santo faz parte da vida da nossa cidade. É um testemunho, mais um, da antiguidade da nossa cidade. Um marco, um pedaço de história. Um local onde, tantas vezes, a história foi escrita e rescrita.

Dos tempos de liceu, aos tempos de Universidade, voltando a ser frequentado por alunos de liceu, ficando sobre o jugo de um poder ditatorial, de tudo um pouco se viveu por lá.

Quem passeia nos seus claustros, quem entra nas suas salas cheias de quadros de ilustres, que sem senta nos seus cadeirões, quem o faz, respira o ar da antiguidade, o ar do imponente e majestoso passar de anos, esses sentem o peso dos anos, o peso e a marca da história, contada com garra, sentida em cada pedra.

Ser aluno ali, naquele local histórico é ser um privilegiado, é aguentar o frio sabendo que muitos outros já o aguentaram. É ver as suas aulas interrompidas só porque alguém de máquina fotográfica em punho resolve ficar com uma pequena recordação de tão belo edifício. É celebrar o final dos seus estudos, tomando um banho na fonte dos Claustros. É sentir que se faz parte. É sentir-se também ele parte da história.

É estar em casa e ver o “nosso” espaço na televisão. É estar noutro país e ouvir alguém dizer-nos que a nossa cidade é linda, que o “nosso” espaço faz toda a diferença, que o sítio velho, para uns, é antigo e histórico!

Esta cidade é um monumento só. É um grande pedaço de história, com o qual convivemos diariamente, com o qual aprendemos a viver, mas… será que aprendemos a apreciá-lo? Quem tem fotografias da cidade onde vive? Quem passeia e visita os ditos locais de interesse da cidade? Limitamo-nos a viver cá, sem apreciarmos a cidade, sem apreciarmos o estado dos monumentos, sem olhar para eles, mas a olhá-los, a ver os pormenores.

Por isso, quando temos aulas, quando estamos num sítio histórico como o Colégio do Espírito Santo, apreciemos o que temos, a beleza do local. Pensemos em como conseguiremos mostrar quão belo é o que nos rodeia!


quinta-feira, outubro 26, 2006

Há outros mundos

Há outros mundos vai se uma coluna que a minha turma vai ter no Jornal da minha cidade. Como acho que o título da coluna se adequa ao Sotaques e como ainda não criámos o Blog, deixo-vos aqui a minha primeira crónica.

Há outros mundos que entram nos nossos sonhos. Outros mundos que nos parecem tão longínquos que afinal só estão a pouco tempo de distância. O meu sonho tinha uma cidade. O meu sonho tinha a cidade.
Há imagens que se colam à nossa mente com uma insistência tão grande, que passado algum tempo passamos a senti-las como verdadeiras, como reais, como se tivessem sempre feito parte de nós. Para mim era assim. Berlim é parte de mim.
Viver perto da cidade, tocar, sentir, cheirar, produzia felicidade em mim. Sentia-me bem, sentia-me completa. Apesar de saber que não era lá que pertencia, era mesmo lá que estava bem. Sei que o meu lugar é aqui. Aqui estou em casa. Mas lá era onde sem sentia bem enquanto estava longe de casa.
Tocar nos edifícios que apenas conhecia por fotografia, passear pelas ruas, ver a diversidade que me rodeava, de pessoas, de cheiros, de ambientes. Ver que os alemães são sisudos, mas atenciosos. Sentir preocupação quando vêem alguém que “arranha” a língua e se prestam a ajudá-la. Sentir o seu olhar de orgulho quando nos vêem fazer algo bem feito, nem que seja à décima quinta tentativa. Saber que eles estão ali, apenas a dois passos, para nos ajudar.
Ver como foi a cidade massacrada e destruída e ver os símbolos… Tudo e muito mais chama por mim, para aquele local. Tocar a Gedächtniskirche, fotografar os 800mt que restaram do muro, sentir-me cosmopolita na Postdamerplatz, ir lanchar, à portuguesa, ao Europa Center, ver o KaDeWe e tocar um casaco tão caro como um carro, mais caro que o meu carro actual, ver a Kurfürstendamm decorada para o Natal como se de uma feira se tratasse, aliás, a feira estava lá! Com tudo o que lhe era devido.
Andar na nova cúpula do Reichstag é algo de diferente, é ter sentimentos contraditórios, ou se ama ou se odeia, estar na cúpula de vidro e ver pedra por todo o lado, ler a inscrição “Dem Deutschen Volke” e pensar que foi durante a I Guerra Mundial que o Imperador Wilhelm II a mandou colocar, pensar que toda a Alemanha tremeu quando se soube que o seu Reichstag estava a arder em 1933. Depois continuou em ruínas, sem o seu uso pleno. Até que em 1999 é novamente inaugurado com uma cúpula toda em vidro de onde se pode ver as reuniões do Parlamento e a cidade de Berlim.
Fazer a Unter den Linden faz pensar que se está num mundo à parte. Num mundo que só se vê na televisão.
O novo e o antigo… as obras e as surpresas depois das obras… as pessoas… as lojas… as casas… a arquitectura… a descontracção… os sorrisos… as memórias.
De tudo o que me resta, resta-me um sonho final. Tocar, ver ao vivo as Portas de Bradenburgo, que, por motivos de limpeza e restauro, se encontravam tapadas.

O sonho persiste. A cidade, essa é a mesma.

domingo, outubro 08, 2006

O Círio em cada um de nós

Esquina das Avenidas Presidente Vargas e Castilho França, no domingo do Círio

Belém fica linda na época do Círio... As cores, os sons, os movimentos dessa cidade na beira da baía do Guajará.
O que eu mais gosto de observar é como o Círio afeta a vida das pessoas. As famílias se encontrando, os paraenses que estão fora voltando para cá quando podem... Gosto de ver a cidade como fica nos dias anteriores à procissão, o movimento de pessoas chegando aos portos, rodoviária e aeroporto, trazendo saudades e alegrias a essa cidade.
Minha família é extremamente católica. Durante muitos anos, em todo Círio, meu pai, meu irmão e eu acompanhávamos o Círio das ruas paralelas, enquanto minha mãe ia na procissão. Lembro que, quando éramos crianças, meu pai sempre comprava para nós barquinhos de miriti para brincarmos na piscina de plástico que ele tinha montado no nosso quintal desde a manhã anterior.
Lembro da beleza da Procissão do Círio. Como isso mexe com as pessoas. Lembro que me fascinava, quando criança, os vendedores de brinquedos de miriti, de fitas coloridas, o papel picado caindo dos prédios, os fogos, as homenagens dos diversos órgãos da Avenida Presidente Vargas, dos leques de papelão com bonitas ilustrações e com a letra do “Vós sois o Lírio Mimoso” atrás. Eu e meu irmão fazíamos coleção deles.
Lembro da mesa farta e de um ano em que muitos parentes de meu pai vieram almoçar aqui em casa. E que dia alegre foi aquele! Lembro de outro Círio em que se encontraram os parentes de minha mãe, inclusive a matriarca da família, minha bisavó, que veio do interior de Abaetetuba. Nosso ultimo encontro foi nesse Círio, uma vez que ela morreu meses depois.
Penso nos paraenses que conheço que moram fora do Pará. Penso nos meus amigos que estão fazendo mestrado e doutorado no sul do Brasil ou na Europa. Penso na mãe da minha namorada em Manaus. Penso nas histórias que meus professores contam da época em que moravam até mesmo fora do país e nas saudades aterradoras de outubro. Penso em mim mesmo daqui a algum tempo que, penso eu, também vou morar fora do Pará.
Eu sei que onde houver um paraense há um rio de gente, passando das ruas de Belém para o coração dessa pessoa, lembrando a ela de todas as coisas que ela viveu durante o Círio. Um rio de gente trazendo as lembranças de um Pará que está longe e mais perto do que nunca. E isso independe de religião e crença. Um rio que atende a católicos, evangélicos, ateus, o que for. Um rio do Pará, rio de pessoas, a acalentar os paraenses que estão longe. E que sei que vai confortar a mim também.
E um feliz Círio para todos nós.

quinta-feira, setembro 28, 2006

A minha homenagem à Patrícia...







Penso em ti. Busco nas tuas acções o carinho de que preciso, de que tenho sede e fome. Lembro os teus olhos, doces da cor do café, recordo o calor do teu corpo, da tua voz...

Tenho saudades... saudades do toque meigo da tua boca sobre a minha face, saudades dos teus cabelos macios que penteio com os dedos bem devagar, para te sentir plenamente, totalmente...
Finjo rir para que as lágrimas não caiam... é difícil sorrir quando a vontade que tenho é de chorar, para explusar a dor que guardo cá dentro. Guardo-a silenciosamente, sem a mostrar, com receio de te perder. Pois se tu és dor, lágrimas, solidão, és também sol e céu, és o mar a lamber a areia, és a estrela que fixo no escuro Universo. És vida que me percorre, faca que me corta, sangue que me dá vigor... és Amor que magoa sem doer.

Patrícia Dias Alves, in Poiesis vol. III

domingo, setembro 17, 2006

Picadeiro

Dirigia o seu carro pelas ruas da já enegrecida Belém. O caminho, bem marcado na cabeça, não seria dificuldade: Almirante Barroso, larga e iluminada, a ciclovia no centro, José Malcher, por dentro do túnel formado pelas copas das mangueiras, Teatro da Paz, Assis de Vasconcelos, etc. Fácil.
O sinal vermelho o deteve e ele ainda nos seus pensamentos. O caminho, o que encontraria. O apartamento, o seu cão abanando o rabo, pensando em comida. Alimentar o cachorro, se alimentar, banho, cama. Coisa boa...
No sinal vermelho, meninos formando uma torre humana: um sobre as costas do outro, fazendo malabarismos com três pedaços de pau enfeitados com plástico. Abortado de seus pensamentos, presencia à força a cena. Sob qual força? Sente como se devesse ser platéia. "Se não pagarei com centavos, pagarei com atenção." Por quanto tempo será que aqueles meninos ensaiaram aquilo? Devem ter faltado a escola... Eles vão à escola?
A apresentação termina, contada no relógio regressivo do semáforo para pedestres. A mãozinha calejada e suja do menino, o que ficara por baixo na torre, bate na janela de seu carro. Por um instante o homem observa os outros carros... Tão protegidos quanto ele na segurança das películas importadas, não abrem as janelas. Carro após carro, cada menino tem o seu esforço ensaiado desperdiçado. No ônibus ao lado, alguns passageiros riem e imitam o movimento de malabarismo, outros dormem, outros ignoram.
"Ajudo?", pensa ele. "Podem realmente precisar... Podem estar sendo explorados sei lá por quem, e se eu der o dinheiro, vou estar estimulando. E se não der?" Ele podia inclusive imaginar as seções de ensaio... Em algum quintal de terra batida, eles insistentemente subindo um na costa do outro. Buscando o equilíbrio perfeito. Talvez assistidos por uma irmã menor de calcinha rosa e boneca descabelada (e sem uma perna, arracanda por um dos meninos) nas mãos, com um dos polegares na boca.
Eles se equilibrando, artistas, voadores, se esforçando para não derrubar as roupas do varal. Eles sonham com a quantidade de dinheiro que vão trazer para casa, o quanto surpreenderiam milhões com esse espetáculo! E dentre esses milhões, alguém que veria a enorme habilidade dos trapezistas, e os levariam para um circo de verdade! "Os irmãos voadores, para vocês!" Pessoas de todos os lugares viriam para ver! A irmãzinha, com uma boneca penteada e com as duas pernas, assistiria da primeira fila, com pipoca e algodão-doce, ao lado da mãe, que já não ralha por causa das roupas no varal. E os meninos riem, pois divertem e colorem o mundo! E fazem isso por alguns centavos. "Ajudo?"
O sinal abriu, e a mãozinha do grande trapezista ficou para trás.
Amirante Barroso, José Malcher... Já não é tão fácil assim.

terça-feira, setembro 12, 2006

09/11

Há 5 anos estava a preparar-me para ir de viagem. Preparava-me para a maior viagem da minha vida. No momento não notei nada de especial, não vi grandes alterações na minha vidinha, aqui na minha cidade. Para onde fui...
No aeroporto a despedida foi à porta, a falar com os meus pais pelo telemóvel, com um vidro a separar-nos. À chegada a Berlin, e visto lá ter passado grande parte do dia à espera, senti os polícias a vigiarem-me, acho que só descansaram quando me viram falar português ao telefone com os meus pais.
Durante o meu tempo lá notei que todos parecíamos ser vigiados, polícia nos sítios mais importantes, consulados com demasiada escolta, ruas cortadas com carros blindados, nunca tinha visto tanques de guerra, metralhadoras, sabem aquelas zonas com sacos e metralhadoras que só se veem em filmes? Assim estava toda a rua da Embaixada dos E.U.A.. Nos meus passeios por Berlim notava que as coisas estavam diferentes, mas como eu estava isolada, raramente lia as notícias, não via televisão, acho que há coisas que me passaram ao lado, há pormenores que só depois de os ver, agora, mostram-me quão monstruoso foi o que aconteceu.
Não sei como alguém se pode regozijar de ter feito o que fez. Não entendo a violência, não entendo a matança de pessoas que não têm nada a ver, que apenas estavam a trabalhar!
Há 5 anos ouvi dizer que ainda bem que ainda não eram 9horas... senão aí tinham morrido mais pessoas.. Desapareceram 3000! 3000! Há quem ainda não tenha um corpo para chorar, para enterrar, para encerrar o assunto. Há quem espere.

Há 4 anos andava tão atarefada com o meu estágio que quase me passou ao lado, não parei para pensar no que tinha acontecido.

Há 3 anos a saudade de Berlim bateu.

Há 2 anos a saudade de Berlim bateu forte. Nesta altura o que me segurou foi a doença da minha mãe. Acho que teria mesmo voltado para lá. Quem sabe se a minha vida seria diferente. Não me arrependo. A vida é mesmo feito de escolhas.

Há um ano resignei-me que o meu tempo em Berlim já passou.

Este ano... este ano voltei a pensar em Berlim. Este ano a Patrícia morreu. Depois de saber não pensei mais no 09/11 nem em Berlim.
A Patrícia tinha menos dois anos que eu. Não éramos amigas, fomos colegas de curso e é muito estranho morrer alguém com quem estudámos, rimos, trabalhámos. Não fomos próximas. Fomos colegas. Em Maio encontrei-a na cidade onde ela morava e tínhamos estudado. Disse-me que estava feliz, que estudava o que gostava e lhe pagavam para isso. E mais! A bolsa de doutoramento ainda lhe permitia viajar por onde ela gostava. Estava feliz. É isso que me consola.

Há 2 dias a Patrícia morreu.

sexta-feira, setembro 08, 2006

Guia do Mochileiro de Manaus

Então você aceitou ir para Manaus passar um fim de semana com o seu amor? Está indo fazer isso pela segunda vez e sabe o quanto, mesmo sendo por pouco tempo (e mesmo valendo completamente a pena), isso dá gasto de dinheiro? Então siga esse guia!

LIÇÂO 1: O Aeroporto

Bom, ao menos que você tenha escolhido ir de barco (viagem barata, mas desconfortável e não muito segura... Quatro dias para chegar à capital amazonense saindo de Belém), o primeiro lugar no qual você vai pisar em Manaus é no aeroporto. Há apenas um ônibus urbano (preço da passagem: R$1,80 de segunda a sábado, R$1,00 aos domingos) que atende o aeroporto: o 306, que vai te levar ao centro (lembre-se dessa palavrinha... ela se refere a um lugar muito importante, do qual voltaremos a falar logo). Caso você tenha chegado de manhã, pegue o 306 e seja feliz, seguindo para a LIÇÃO 2. Caso seja de madrugada, não recomendo o caminho do ônibus urbano. Espere um amigo lhe buscar. Caso não haja um amigo que lhe busque, é melhor dormir no aeroporto.
Por que dormir no aeroporto? Lembre-se, você é um mochileiro sem dinheiro! O táxi para qualquer parte de Manaus custa cerca de R$ 50,00.

LIÇÃO 1.1: Dormindo no aeroporto

Escolheu dormir, né? Tá ok, “dormir”... Bom, os banheiros não lhe oferecem a opção de tomar banho, obviamente. Mas as pias são grandes, você pode se aventurar em um banho de gato, colocando a sua mochila sobre o balcão (ou você trouxe mais alguma coisa? Que espécie de mochileiro você é?).
Tome o seu “banho”, escove os dentes, e arrume coisas para passar o tempo. No saguão do Aeroporto Internacional Eduardo Gomes você vai encontrar: loja de artesanatos (muito bonitos, bonitos mesmo), stands de produtos diversos (como os maravilhosos Licores Doces, feitos pelo amigo dela), etc. Coisas bacanas para ver, mas um problema: para comer, só há coisa cara, do Bob’s ou da Casa do pão de Queijo. Entendeu por que eu te sugeri escovar os dentes antes, né? Mas é claro, você pode ter guardado aquela barrinha de cereal do avião. Coma ela aos pouquinhos.
Resolveu dormir? Primeiramente, só há três opções de assento: cadeiras de metal, banquinhos de madeira altos e poltronas marrons. Se você quer dormir mesmo, escolha as poltronas marrons, mas todas elas têm braços, você não vai poder se esticar. Mas há mesinhas pretas, onde você pode colocar o pé em cima, e encoste a cabeça na sua mochila (Santa Mochila...). Você vai sentar perto das televisões, mas esqueça, elas estarão desligadas. Prepare-se para ser abordado por alguém que vai te pedir uma ajuda de R$10,00 para um hospital em troca de um adesivo e um broche (se você realmente for mochileiro, quem precisa de ajuda é você... se quiser, faça sua carinha de pidão e diga que não pode ajudar, que quem sabe a mocinha do hospital se compadeça e te ajude...). E aproveite a sua noite...
Ei, alguém apareceu de surpresa para te pegar no aeroporto? Que alegria! Vamos ao centro...

LIÇÃO 2: O Centro

Independentemente de que horas você chegar aqui, saiba duas coisas: primeiro, o centro tem MUITOS hotéis baratos! De todos os preços e qualidades. Quer uma boa vista? Sugiro o Opção (diária R$50,00, pernoite R$ 30,00), quarto 206. É o ÚNICO de Manaus com vista para o Teatro Amazonas (LINDO, LINDO, MUITO LINDO MESMO! Mais detalhes logo). Quer café da manhã? Sugiro o Minas (Pernoite R$35,00, café incluso!), que fica na frente do T1 (outro local importantíssimo. Detalhes na próxima lição). Como são muitos os hotéis, Mochileiro, não leve nem toalha nem lençol! Vai ter nos locais onde você se hospedar. Segunda coisa sobre o Centro: a grande maioria dos ônibus de Manaus passa por aqui. Mas não é simplesmente pelo bairro do Centro, mas por uma Rua do Centro: Epaminondas. Saiba onde fica a parada do Colégio Militar como se sua vida dependesse disso, e aos poucos vá decorando o número dos ônibus.
Aqui vem o grande mérito de sua mochila. Você vai sair do hotel? Leve a sua mochila com você! Para que pagar um lugar para guardar apenas as suas roupas?
Ok, chegamos a Manaus, chegamos ao centro, estamos instalados. Vá encontrar os seus amigos, vá se divertir! E uma regra importante: ANOTE TUDO! Anote o número dos ônibus, o nome das ruas, bairros, telefones... E é claro, caso você se perca, sempre pode perguntar onde pegar um ônibus para o Centro. Segunda regra importante: NÃO TENHA VERGONHA DE PERGUNTAR! Aquela máxima, de quem tem boca vai a Roma, é verdade.

LIÇÃO 2.1: T1, T2, T3...

Uma grande lição acerca do transporte urbano de Manaus que vai poupar o seu dinheiro, Mochileiro. Os terminais de integração, que permitem que você desça neles e pegue outro ônibus, sem pegar outra passagem. Tem locais de Manaus que, para chegar neles, dependendo de onde você sair, inevitavelmente vai ter que ir para alguns dos terminais, chamados de T1, T2, T3, T4 e T5. Por alguns deles você nem vai precisar passar, ainda mais em apenas um fim de semana, mas o mais importante é o T1, que fica no Centro. Perdido e quer ir ao Centro, que você já conhece? Pegue algum ônibus onde está escrito T1 e seja feliz.

LIÇÃO 3: Coisas para se fazer

Ei, não me diga que você foi só namorar e vai se trancar em algum lugar com o seu amor até dar a hora de ir para o aeroporto novamente? Por mais atraente que essa idéia pareça, Manaus tem muitas coisas legais para se fazer! Dê uma olhada na cidade, vai saber quando você vai voltar a ela?

LIÇÃO 3.1: Para quem quer conhecer a produção de ciência

Universidade? INPA? Sem problemas! Um fica na frente do outro! (Tá bom, não exatamente na frente, mas se você veio até aqui com uma mochila nas costas, por que não andar um pouquinho?).
Do Centro você pode pegar o 125 (passa no T1) ou o 616, que entram na UFAM. Tá sem saco de esperar? Pegue qualquer ônibus que passe na Bola do Coroado, vá andando para o INPA ou, se o seu objetivo é a UFAM, espere na primeira parada da General Rodrigo Otávio pelo Integração (ônibus da UFAM que é de GRAÇA!!). Ou pegue um ônibus que vá para a General Rodrigo Otávio e desça na frente da UFAM. Entre e espere na primeira parada, que lá os demais ônibus serão de graça também. Ê coisa boa!
Quer ir andando UFAM adentro? Não recomendo, uma vez que é a maior reserva florestal urbana do país... É floresta mesmo! E as coisas não são perto... Espere o ônibus, é melhor.

LIÇÃO 3.2: Vida Cultural

A vida cultural de Manaus é fantástica! Ao redor do Teatro Amazonas (que é majestoso) fica o Largo de São Sebastião. Um lugar extremamente agradável e seguro a qualquer hora do dia (você pode deitar na frente do teatro a uma da manhã sem ser incomodado, veja só!), que nos domingos a noite tem várias coisas: teatro, música, dança, contadores de historias, brinquedos... Um lugar muito gostoso.
E o que fazer domingo de manhã? A rua que passa atrás do Teatro, a Eduardo Ribeiro, é fechada até o meio-dia e nela funciona uma feira com comidas, artesanatos, livros, CDs, artistas, etc.
Mais uma regra: NÃO SAIA DE MANAUS SEM PROVAR X-CABOQUINHO (pão com queijo coalho e tucumã)!! É delicioso, você não vai se arrepender.
Têm outros espaços na cidade, como o Teatro Chaminé (infelizmente não sei como chegar lá de ônibus) e casas de cultura ao redor do Centro.
Sugiro fortemente o Botequim, que fica a dois quarteirões do Teatro, na Rua Barroso. Lugar com boa música, aconchegante e divertido. Vá com uma boa companhia e se divirta!

LIÇÃO 4: O Teatro Amazonas

Não há crime maior do que ir a Manaus e não ver esse prédio majestoso, que eu carinhosamente chamo de “Bonito”.
Ele é bem fácil de achar, fica no centro. Arquitetura clássica com uma cúpula em verde e amarelo, no maravilhoso espaço do Largo de São Sebastião e na frente do Monumento de Abertura dos Portos. Se você estiver por aqui em abril vai poder acompanhar o Festival de Ópera, que vale muito a pena.
Visitas guiadas custam R$10,00, mas o que você tem que fazer mesmo é assistir a um espetáculo. E, quando entrar, olhe o teto. Regra: OLHE O TETO! Não vou contar mais, quero atiçar a sua curiosidade!
Preste atenção em todos os detalhes do teatro, as suas cores, as suas curvas, os seus desenhos... Como parece que ele foi colocado cuidadosamente em um pedestal, e a cúpula encaixada com carinho para proteger e enfeitar o Bonito. Veja tanto os detalhes externos quanto internos, toque, sinta a história pulsar pelas suas paredes e contornos...

LIÇÃO 5: Aos Mochileiros Paraenses

Caro Mochileiro, se você for paraense, uma dica particular. Para quem não sabe, no Amazonas há piadas e anedotas de paraense e, até certo nível, preconceito também. Muitas vezes não passa de brincadeira, assim como se tem nacionalmente com gaúchos e baianos, então não esquente a cabeça. Leve na brincadeira também e curta sua estadia. Mas é claro, nunca sabemos que tipo de loucos vamos achar em qualquer lugar, que toma “paraense” como insulto. Então, é bom tomar cuidado.
E o sotaque paraense salta aos ouvidos amazonenses.

LIÇÃO 6: Notas diversas

Quer ver mais coisas em Manaus? Ainda tem a Praia da Ponta Negra (do centro, pegue o 120), que tem uma orla bonita, bares e tudo o mais que uma boa praia tem. Há o Zoológico do CIGS, o Parque do Mindú, o Bosque da Ciência, no INPA (esse último, em particular, vale muito a pena, pois você pode ver um peixe boi bem na sua frente, é lindo!).
Prepare-se para MUITO CALOR! Dependendo da época do ano, pode ser que você nem chegue a pegar menos de 40 graus. Então, caro Mochileiro, nem precisa se preocupar em levar roupas para frio!

E é isso que eu tenho a dizer para vocês. Peço aos leitores amazonenses que acrescentem o que eu porventura tenha esquecido ou alterem o que talvez eu tenha errado.
Aos leitores que ainda não conhecem Manaus, vale muito a pena. Cidade linda com pessoas fantásticas.
Às pessoas fantásticas que conheço e moram em Manaus, saudades. Logo eu volto.

terça-feira, julho 04, 2006

Grafiti em Évora


Estes sãos os símbolos da minha terra, agora revisitados por um grupo de grafiters. Gostei muito desta imagem. Está aqui o que é o Alentejo, está o camponês com o seu capote, mesmo no Verão tórrido, a ceifeira com lenço, o campo, a horta, as galinhas, o gado pelo cajado na mão dele, e tudo a mostrar como é bonito.

A Mamy pediu, eu prontamente respondi, aqui está o que mais gostei das festas populares da minha cidade.

segunda-feira, maio 22, 2006

Andarilhos - Parte VII

[parte VI]

Você está na rua, um homem passa por você. Ele está sujo, barba e cabelos longos, as vestes judiadas a tanto tempo que, o tecido que um dia teve cores vibrantes, agora tem o tom da poeira das ruas. Sim, ele é um andarilho, olhando para o chão enquanto caminha. Parece que todas suas posses são aquilo que ele pode carregar.

O que você faz? Há quem se afaste e passe longe, afinal, ele pode ser violento, ele deve estar bêbado, talvez ele tenha doenças. Há quem desvie o olhar e procure ignorar, talvez tentando se enganar que aquilo não faz parte de SUA realidade.

Essas pessoas não percebem uma coisa: Não adianta se afastar ou ignorar, porque aquele homem acaba de fazer parte de sua vida. Naquele instante, naquele segundo, aquele homem causou neles impressões que os fizeram se afastar ou ignorar, ele teve um peso para essas pessoas.

E, no entanto, o inverso? Observe: Ele continua seu caminho, vagaroso, sem levantar os olhos. Todas aquelas pessoas que passam por ele, que o ignoram, que se afastam... não importa. Nenhuma causou qualquer efeito sobre ele. Ou seja, quem está ignorando a todos, na verdade, é ELE.

O que é isso? A LIBERDADE. Ele não tem a sua pressa, ele não precisa de sua roupa, ele não quer suas preocupações. Ele só quer andar. Ele escolhe para onde vai, ele escolhe o que e quando fazer, ele escolhe a QUEM ver. Ele escolhe quando e como interagir. Ele certamente conhece coisas, pessoas, lugares que você jamais conhecerá. Apenas porque ele usa de sua liberdade em sua plenitude, por não ter MEDO.

Eu? Eu não me afasto e nem ignoro. Eu o observo. O andarilho é uma pessoa. Como eu ou você. Eu sou uma pessoa e, um dia, poderei ser... como ele. Quem poderia saber?

Eu sei. Eu JÁ SOU.

Como a dele, minha alma sempre busca se expandir, crescer, sempre fazer mais coisas, conhecer mais pessoas, novos lugares, atingir objetivos maiores... Só que existem os medos, eu tenho algo a perder que ele não tem. Mas nada disso impede da minha alma ser andarilha. Se você tem as mesmas sensações, a sua também é. E eu sei que você tem.

Agora mesmo, sua alma está expandindo através da internet. Com a tecnologia você conhece lugares novos, você interaje com outras pessoas, as que você escolhe, da maneira que você escolher, quando você achar melhor... algumas se afastam, outras te ignoram. E você também, certos dias, apenas vagueia sem levantar os olhos, carregando seus pertences. Você conhece coisas, pessoas e lugares na internet e fora dela que eu não conheço e jamais conhecerei. Sim, eu sou um andarilho, e você também é.

Assim como o andarilho do mundo real, você anda porque procura em outros lugares o que não encontra próximo a você. Amores? Amigos? Atenção? Você procura se sentir melhor, você procura o que só você sabe que te dará esse conforto. Conforto... conforto é encontrar outras pessoas que se identifiquem com você.

E eu tenho uma novidade pra você: Todos na internet são pessoas, todos têm sua alma andarilha, e todos procuram o mesmo conforto que você. Identifique-se com todas, e com certeza sua presença virtual te trará sentimentos reais.

Olá andarilho! Obrigado por ter parado aqui, seja bem-vindo. Sente-se, aceita um café?